Durante a terceira mesa do 1º Fórum da Mulher Médica, realizado nesta quinta-feira (28), na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), especialistas abordaram os principais fatores que influenciam o exercício da medicina por mulheres, com ênfase em saúde cardiovascular, os desafios da maternidade e a sobrecarga profissional. A mesa foi coordenada pela conselheira federal Leopoldina Milanez da Silva Leite e secretariada pela conselheira federal Viviana de Mello Guzzo Lemke, com a conselheira federal Graziela Schmitz Bonin como debatedora.
A médica Alexandra Oliveira de Mesquita abriu a mesa com a palestra “Panorama das doenças cardiovasculares nas mulheres”, destacando dados alarmantes sobre a subnotificação e subvalorização dessas enfermidades no público feminino. Segundo ela, 35% das mortes de mulheres no Brasil são causadas por doenças cardiovasculares — superando inclusive o câncer de mama —, mas a percepção do risco entre as mulheres ainda é baixa.
Alexandra também apontou a ausência de políticas públicas específicas, a baixa representatividade feminina em estudos clínicos e a dificuldade de diagnóstico devido à apresentação atípica dos sintomas em mulheres. “A mulher demora a chegar ao atendimento e recebe menos intervenções, resultando em uma taxa de mortalidade 50% maior em relação aos homens”, afirmou. Ela defendeu ações de educação em saúde e políticas específicas de prevenção cardiovascular para mulheres.
Na sequência, a médica Marcela Augusta Montandon trouxe um depoimento emocionante sobre o equilíbrio entre maternidade e exercício da medicina. “Somos mulheres, somos médicas e muitas vezes também somos mães, tentando equilibrar dois mundos que não são fáceis”, afirmou. Ela relatou episódios pessoais, como o retorno ao centro cirúrgico apenas sete dias após o parto, para ilustrar as dificuldades enfrentadas por médicas-mães diante da falta de políticas adequadas de apoio e flexibilização.
“Quem cuida de quem cuida?”, questionou, ao defender mais sororidade entre colegas e políticas que respeitem o tempo e as necessidades da mulher médica. “A maternidade nos transforma, mas a estrutura de trabalho precisa acompanhar essa realidade para que possamos cuidar sem nos anular”, disse Marcela.
A médica Letícia Maria Akel Mameri encerrou a mesa com a palestra “Jornada de trabalho: sobrecarga, violência e adoecimento mental”, trazendo dados preocupantes sobre o impacto da rotina intensa na saúde mental das médicas. De forma remota, ela compartilhou estatísticas de pesquisas recentes que apontam para altos índices de assédio, preconceito de gênero e burnout entre mulheres médicas.
“Mais da metade das mulheres médicas já sofreu agressões verbais ou físicas e sete em cada dez enfrentaram preconceito de gênero ao longo da carreira”, destacou. Letícia ressaltou que, além de lidarem com múltiplas jornadas, as médicas têm menos apoio institucional e menor capacidade de ‘deixar o trabalho para trás’, o que agrava quadros de ansiedade e depressão.
O Fórum continuou ao longo do dia com outras mesas temáticas, reunindo especialistas, conselheiras e médicas de todo o país para discutir caminhos de valorização, representatividade e equidade na medicina.