Sempre há algum fator, como perda dos ossos, fraqueza muscular ou a ingestão de remédios para dormir Quedas de idosos estão sendo tratadas pelo Ministério da Saúde como epidemia. Isso porque, em 2009, os gastos públicos no país com internações e medicamentos nestes casos foram R$ 81 milhões – R$ 12 milhões a mais que em 2006. Em Minas Gerais, apesar de a Secretaria Estadual de Saúde (SES) não ter em mãos os valores gastos, as internações de pessoas acima de 60 anos por fratura de fêmur, uma das principais conseqüências da queda de idosos, foram 5.367 em 2009 – 24,21% do total deste tipo de intervenção no Estado. O aposentado José Emílio Gil Machado, 83 anos, é mais um nesta estatística. Há 15 dias, ele quebrou o fêmur depois de não conseguir equilibrar-se ao descer do carro e cair. “Senti algo esquisito e fui cambaleando”, conta. A recuperação envolveu uma cirurgia na última segunda-feira. “Não faço atividade física nem tenho fraqueza muscular. Mas todos os dias, pela manhã, caminho até a casa dos amigos. Não sei o que aconteceu desta vez”, diz. As quedas são freqüentes na terceira idade, mas não podem ser consideradas normais. Especialistas afirmam ser comum pessoas nesta faixa etária caírem uma vez ao ano. Porém, quando ocorre mais vezes a causa deve ser avaliada. “A história de que um idoso caiu porque é da idade não existe. Sempre tem algum fator, como uma perda dos ossos, fraqueza muscular. Outro fator é a ingestão de remédios para dormir, que deixa a pessoa sonolenta ao longo do dia e tira o seu reflexo. Ela não consegue se segurar ao escorregar, por exemplo”, enfatiza a presidente do Departamento de Geriatria da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Cláudia Caciquinho, enfatizando que a recuperação é lenta e complicada. As principais causas das quedas nesta idade são problemas de visão (o idoso deve ir ao oftalmologista pelo menos uma vez ao ano), ambientes não preparados para recebê-los e fraqueza muscular (comum após os 40 anos). É aqui que se encaixa o aposentado João Lopes Pereira Filho, 69 anos. Há dois meses, ao tentar socorrer uma neta que tinha caído do velocípede, caiu na área da churrasqueira, onde tem degraus. O resultado: cortes em várias partes do corpo, além de 20 dias imobilizado numa cama. Portador de nefropatia diabética (complicação da diabetes que ataca os nervos das pernas), João Lopes já perdeu a conta de quantas vezes caiu. “Tenho fraqueza nas pernas. Esta vez foi uma das mais graves”, afirma. Para tentar evitar as quedas, ele faz fisioterapia. “Já melhorou com as sessões. Mas ainda caio”, diz. E é a fisioterapia uma das alternativas para a prevenção de quedas de idosos. “Estimula o equilíbrio, permite ganhar força muscular e, em casos mais graves, tem a prescrição do auxílio de muletas ou andador”, explica o fisioterapeuta André Luiz de Castro. Para o especialista, as quedas quebram a autoconfiança dos idosos mais que os ossos. “Se caem uma vez, não querem mais se movimentar. Aí é que vão cair mesmo, pois não farão atividades”, afirma. Cláudia Caciquinho salienta que todo idoso que cai, por mais simples que seja a queda, deve ser encaminhado para um hospital. No caso de atingir o fêmur, a probabilidade de morte chega a 45%. “Por isso, os cuidados devem ser redobrados”, enfatiza. Para reduzir os gastos, a dica de especialistas é investir em prevenção O investimento em prevenção poderia diminuir os gastos públicos com tratamento para idosos que caem. É o que acredita a professora Sílvia Regina Mendes Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. “Um exame de densitometria óssea, por exemplo, pode indicar a osteoporose. Assim, o idoso é encaminhado para tratamento e prevenção”, explica. A presidente do Departamento de Geriatra da AMMG, Cláudia Caciquinho, defende a adoção de medidas para que, dentro de alguns anos, o número de idosos com fraturas em virtude de acidentes domésticos não seja ainda maior. Isso porque a expectativa é de que o Brasil tenha, em 2050, três adultos para cada idoso. Dentre essas medidas estão a construção de espaços que permitam a locomoção dos idosos. “A colocação de barras no banheiro para a segurança, rampas, elevação do vaso sanitário, espaços maiores são algumas coisas que devem ser observadas”, salienta. O coordenador do Laboratório de Acessibilidade em Design e Arquitetura para a Pesquisa e Treinamento em Serviços de Extensão (Adaptse), da UFMG, Marcelo Guimarães, defende a construção de imóveis já pensando no futuro. “As pessoas hoje tendem a construir ou escolher o acabamento pensando a questão estética, e não na praticidade. “É complicado depois você ter que tirar o idoso deste local onde viveu a vida toda ou começar a adaptar para ele se locomover”, diz. O aposentado João Lopes é exemplo disso. Há 25 anos ele construiu a casa onde mora com a família, no Bairro Jardim Riacho, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). “Naquela época nem pensava que teria que fazer alguma adaptação. Hoje, vejo que não tem mais jeito. E são coisas fáceis. Só tenho que sair para comprar o material”, diz. Para evitar esse tipo de problema, um sobrinho da aposentada Maria Barbosa, 90 anos, colocou barras no banheiro da casa dela. “Facilita e muito”, diz. Apesar de não cair muito, há quase 60 dias a idosa teve uma fratura na tíbia, depois de escorregar num chão molhado no quintal de casa. Até a recuperação, que está sendo longa, ela tem o auxílio de uma cadeira de rodas e de um andador. A geriatra Cláudia Caciquinho diz ainda que os móveis devem ter as pontas arredondadas e sem arestas. “Eles apoiam muito nestes locais para se locomover. E não devem ficar muito juntos. O idoso deve ter espaço para se locomover sem problemas”, observa. Fonte: Jornal em Dia On line – 13/08/2010

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