UFMG desenvolve um sistema que filtra as mensagens de pessoas que reclamam de sintomas da dengue, e cria um mapa das regiões que podem enfrentar uma epidemia

Hoje em dia, compartilhamos tudo nas redes sociais, desde recados para amigos e família até informações sobre nossa própria saúde: publicamos no Twitter ou no Facebook quando estamos com dor de cabeça ou febre, por exemplo. Essas mensagens podem até parecer chatas ou irrelevantes para a maioria das pessoas, mas para pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) formam uma fonte de informação que pode ajudar a prevenir e combater a dengue no Brasil. Uma equipe liderada por Wagner Meira Junior, pesquisador de Ciência da Computação da UFMG, criou um sistema que filtra as mensagens de pessoas que reclamam de sintomas da dengue, e cria um mapa das regiões que podem enfrentar uma epidemia.

A ideia surgiu quando os pesquisadores entraram em contato com dois trabalhos: um que usava consultas do Google sobre sintomas da gripe, e outro que usava informações do H1N1, a gripe suína, no Twitter. Os dois estudos analisavam a quantidade de buscas ou de tweets para tentar prever o volume da incidência da doença, com bons resultados. “A partir desses trabalhos, passamos a investigar a hipótese de utilizar dados das redes sociais para vigilância epidemiológica”, diz Meira.

O pesquisador vê o Twitter como um reflexo do que está acontecendo na sociedade. As manifestações das pessoas, como reclamar de algum sintoma ou dizer que foi diagnosticado com dengue, acabam se transformando em um grande banco de dados para identificar uma possível epidemia. “O fato das manifestações serem espontâneas e capilarizadas torna o Twitter uma fonte interessante e robusta para entender o que está sendo discutido na sociedade.”

Atualmente, a dengue é monitorada quantificando o número de casos para cada localidade e o período em que os casos da doença ocorrem. No entanto, os relatórios podem levar semanas para encontrar padrões de regiões atingidas. As autoridades da saúde conseguem indentificar o momento em que uma epidemia se espalha, mas nem sempre consegue identificar o local – cidades, bairros – a tempo do poder público agir. É aí que entra o Twitter. A grande vantagem da ferramenta é encontrar onde ocorrem os surtos em tempo real.

Para que o sistema funcionasse, os pesquisadores criaram um conjunto de softwares que coleta, analisa e apresenta as informações postadas no Twitter. O software identifica o total de tweets que mencionam alguma informação relacionada à dengue, como o local em que esses tweets foram publicados, a data em que foram postados, ou a experiência de pessoas com a doença. Quando os pesquisadores encontram uma quantidade muito grande de mensagens vindas de uma mesma região em um mesmo período de tempo, podem estar detectando um local que enfrenta um surto da dengue. “Analisamos o volume de mensagens que expressam experiência pessoal, e verificamos alterações bruscas nesse volume, que configuram surtos epidêmicos com grande probabilidade.”

Segundo Meira, o software foi testado entre novembro de 2010 e maio de 2011, e já está em funcionamento. “Testamos o sistema desde o fim do ano passado com ótimos resultados. O Ministério da Saúde já manifestou formalmente o interesse em utilizá-lo dentro do leque de ferramentas de combate à dengue.” O trabalho dos pesquisadores da UFMG foi publicado no site da New Scientist. Usado em conjunto com as campanhas de prevenção que conhecemos bem – como não deixar água parada em garrafas, pneus e vasos de flores – o sistema pode ser mais um passo para enfrentar os surtos de dengue que ameaçam a população a cada verão.

Fonte: Época online

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