Marcelle Souza Um médico foi surpreendido na última terça-feira ao descobrir que seu nome e número de registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) estavam sendo utilizados por outra pessoa para receitar um medicamento para emagrecer. José Albino Ottoni Coimbra é ginecologista e obstetra há 28 anos e a receita utilizada no crime pode ter sido desviada de um Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) da Prefeitura Municipal. Apesar de grave, o Conselho explicou que recebe em média cinco denúncias por semestre envolvendo o exercício ilegal da profissão. Durante um procedimento de rotina, a profissional responsável por uma farmácia de manipulação no centro de Campo Grande resolveu ligar para o médico José Albino a fim de checar se a quantidade do medicamento descrito na receita estava correta. Conforme a farmacêutica que preferiu não se identificar, o documento indicava o uso de 30 miligramas diários de um remédio utilizado para diminuir a ansiedade e moderar o apetite. A quantidade prescrita é três vezes maior que a recomendada normalmente e, por esse motivo, ela resolveu confirmar as informações da receita. “Quando recebi a ligação, logo desconfiei, porque se tratava de um medicamento que eu não costumo receitar. Então eu fui até a farmácia e vi que a letra era bem diferente da minha e o carimbo com o meu nome e o número do CRM era falsificado”, conta o ginecologista. Segundo Albino, o receituário era verdadeiro e trazia informações do Caps 2, um dos centros responsáveis pelo tratamento de doenças mentais do município. Segundo a Assessoria de Imprensa da Prefeitura, o caso ainda não chegou ao conhecimento dos responsáveis pelo centro, mas, se algum funcionário for apontado durante a investigação, será instalada uma sindicância. Questionada pela reportagem sobre origem da receita, a paciente preferiu não responder. “Fui inconseqüente e não tinha noção do perigo”, disse, em poucas palavras. Segundo o médico, a mulher teria informado que conseguiu o documento com uma empregada doméstica, que pegou o receituário em um posto de saúde. Outra versão foi dada para a farmácia de manipulação, onde ela relatou que a receita seria de uma médica. A delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) apura o caso. Fraude Conforme o assessor jurídico do CRM, ocorrências como essa têm se tornado cada vez mais freqüentes. “Infelizmente, a emissão de atestados médicos e a utilização de carimbos falsos têm sido muito comuns. Recebemos pelo menos cinco denúncias desse tipo a cada seis meses”, explica o advogado André Borges Netto. Nesses casos, o CRM aconselha os médicos a procurarem a polícia para registrar um boletim de ocorrência. O fato é investigado como falsidade ideológica e uma cópia do BO é guardada no conselho para proteger o profissional de possíveis complicações. “É fácil pegar um receituário original e tirar uma cópia colorida. Além disso, qualquer um pode mandar fazer um carimbo de médico. Por isso, o CRM pede que as pessoas sempre confiram as informações junto ao conselho”, recomenda o assessor jurídico do órgão. O ginecologista que foi vítima da fraude indica ainda que doses irregulares de medicamentos sem o acompanhamento profissional podem ter conseqüências sérias. “Toda medicação tem efeitos. Nesse caso, a pessoa que receitou não era um médico e o remédio tem ação psíquica. Uma pessoa pode até morrer tomando essas coisas”, ressalta José Albino. (fonte: Jornal Correio do Estado – 16.07.09)
Polícia investiga falsificação de assinatura de médico
16/07/2009 | 03:00