Giselle Araujo Especial para o Tempo De pouco adianta o diagnóstico preciso de uma doença se o receituário médico levar a um tratamento equivocado. Foi a partir dessa ótica que o farmacêutico Mário Borges Rosa, presidente do Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos, pesquisou erros nas prescrições de medicamentos potencialmente perigosos, apresentadas na farmácia de um hospital de referência em Minas Gerais. O resultado revelou um certo desleixo dos profissionais da medicina: dos 4.026 receituários analisados, 44,5% (ou 1.791) apresentaram algum tipo de problema. Entre os itens observados estavam a legibilidade da receita, o nome do paciente, o tipo de prescrição, se havia data e até a caligrafia e a grafia correta dos remédios. Entretanto, um dos erros mais perigosos – e recorrentes – é a utilização de abreviaturas. “Principalmente a letra ‘u’, usada para indicar unidade, o que pode levar a erros graves”, observa o farmacêutico Mário Borges. Segundo ele, o uso intensivo e sem padronização de abreviaturas é condenado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que mantém, desde 2004, uma aliança mundial para segurança do paciente. “Essa convenção trata de vários assuntos relacionados à segurança no ambiente hospitalar, como a questão do diagnóstico tardio e o erro de medicação”, pontua. O pesquisador cita como exemplo, para reforçar a necessidade de banir o uso de abreviatura, o caso de um paciente canadense que recebeu 70 unidades de insulina, em vez das sete prescritas, porque a abreviatura “u” foi confundida com o número zero. O paciente sofreu lesão grave permanente. No Brasil, informa Borges, uma criança levada a um posto de saúde faleceu porque a receita indicava apenas uma gota de broncodilatador, e o profissional da farmácia entendeu que eram 15 (porque a abreviatura “g” ficou semelhante ao número 5. “A padronização no processo de prescrição e a eliminação dos receituários feitos à mão podem reduzir o número de erros”, recomenda Borges. O presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), João Batista Gomes, afirma não ter conhecimento sobre o estudo e que a ocorrência comprovada de erros deve ser apurada. “Não temos conhecimento de nenhum erro de medicação prescrita ter matado alguém. Sabemos de um caso de interpretação, quando uma enfermeira aplicou medicamento na veia de um paciente, após ter trocado a orientação enteral (sonda) por parenteral (veia)”, disse Gomes. De acordo com ele, há um artigo do código de ética médica que impede o profissional de emitir receita ilegível. “O conselho sempre se preocupou com o receituário. A maioria dos profissionais hoje usa o computador para imprimir a receita. Mas há também muito preconceito relacionado à letra do médico, que não é boa porque escrevemos muito rápido. Temos que atender muita gente”, justifica o presidente do CRM. Guia Internet. Um guia de orientação aos médicos, que esclarece dúvidas quanto à correta prescrição de substâncias de controle especial, pode ser baixado no site do CRM-MG, o www.crmmg.org.br Números 4.026 receituários foram analisados em hospital de referência 1.791 prescrições apresentaram algum tipo de erro, ou 44,5% 99% das receitas analisadas em pesquisa no Ceará apresentaram falhas (fonte: jornal O Tempo – 13.06.09)

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