Diante de uma população de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o Conselho Federal de Medicina (CFM) defendeu a ampliação do número de geriatras no país em audiência pública, no dia 27, promovida pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara dos Deputados.
Na audiência que debateu a importância da assistência por geriatras e a criação de possíveis incentivos que viabilizem ampliar essa formação, o conselheiro federal Bruno Leandro Souza afirmou que o Brasil conta com apenas 2,6 mil médicos com Registro de Qualificação de Especialidade (RQE) em geriatria. Ou seja, há um profissional para cada 12 mil pessoas idosas, número muito aquém do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A entidade afirma que o ideal seria um geriatra para cada mil pessoas. Dessa forma, o Brasil tem um déficit de 29 mil profissionais.
Souza destacou a gravidade da situação, apontando que a formação de geriatras enfrenta barreiras como a escassez de vagas em residências médicas, déficit de preceptores e infraestrutura inadequada, além da falta de serviços estruturados voltados à geriatria em hospitais-escola. Ele também ressaltou a limitação de financiamento e incentivos, já que a especialidade demanda treinamento em diversos ambientes, como hospitais, ambulatórios e instituições de longa permanência, o que aumenta significativamente os custos operacionais.
“É fundamental valorizar a atenção primária à saúde e as especialidades clínicas, além de ampliar as vagas de residência em Geriatria e outras áreas”, defendeu o conselheiro. Ele sugeriu que a Geriatria seja estruturada como residência de acesso direto, medida que, segundo ele, tornaria a especialidade mais atrativa para os médicos. Hoje, além dos seis anos da graduação em medicina, é necessário fazer mais quatro anos de residência. Ou seja, para ser geriatra, é preciso passar em uma prova de residência médica de clínica médica, fazer dois anos de residência e depois mais uma prova de geriatria e mais uma residência de dois anos.
O representante do CFM destacou que a Geriatria enfrenta ainda dificuldades de atração devido à natureza da especialidade, que lida principalmente com doenças crônicas e múltiplas, além de cuidados paliativos, o que pode desmotivar alguns médicos. Ele também apontou a concentração de programas de residência em grandes centros urbanos, dificultando o acesso para profissionais de regiões remotas, e a pouca exposição da área na graduação. Segundo ele, muitas escolas médicas oferecem carga horária insuficiente ou até inexistente em disciplinas relacionadas ao envelhecimento e à saúde da pessoa idosa, criando lacunas na formação e reduzindo o interesse dos estudantes pela especialidade.
“O rápido envelhecimento populacional define a urgência em formar médicos qualificados para as especificidades do idoso. É uma conquista e é sinônimo de melhora da saúde da população, mas, se não enfrentada de forma adequada, poderá se tornar um problema. A formação urgente de recursos humanos para atendimento geriátrico e gerontológico é uma das prioridades para este enfrentamento”, finalizou.
Também participaram da audiência pública representantes dos ministérios da Saúde e da Educação e de outras entidades médicas.