Brasília,14 – Gotas de sangue em papel. O simples procedimento mudou o diagnóstico de gestantes durante o pré-natal no Mato Grosso do Sul desde sua implantação, em 2002. Além de mais prática e rápida, a chamada “testagem por amostra seca em papel filtro” é mais econômica que a tradicional e permitiu ao estado ampliar o diagnóstico precoce de várias patologias durante a gestação e chegar próximo de 100% de cobertura na testagem do HIV. Das 39.980 gestantes atendidas no estado em 2004, 38.471 foram submetidas ao teste anti-HIV. Em 1999 foram testadas apenas 496 gestantes de um total de 41.859. Os números vêm aumentando gradativamente nesses anos, mas ainda está muito aquém do esperado pela Secretaria Estadual de Saúde. Só após a implantação do programa é que a cobertura atingiu níveis ideais. No primeiro ano testou 83% das gestantes e no segundo ano 96%. O objetivo do Programa de Proteção à Gestante é reduzir o número de mortes nas mães e nos bebês a partir dos resultados de testes realizados no pré-natal e implementar medidas de prevenção a partir desses resultados. Com o programa, a coordenação pôde estar mais próxima das mães e realizar ações preventivas para evitar a infecção do bebê. O modelo tem resultados tão positivos que já está sendo utilizado em Goiás e Maranhão, que tiveram seus profissionais de saúde treinados pelos técnicos da Coordenação Estadual de DST/Aids do Mato Grosso do Sul. Custos – A testagem em papel filtro é bastante simples. Consiste na utilização de um cartão de identificação da paciente com espaços reservados para aplicar as gotas de sangue coletadas de uma picada, da mesma maneira do “teste do pezinho”, só que do dedo da mão. As amostras são enviadas para laboratório pelo correio. “Uma semana depois a unidade de saúde recebe o resultado ou o material para a recoleta, nos casos dos exames alterados, para serem feitos os testes confirmatórios”, explica a coordenadora estadual de DST/Aids, Márcia Janini Dal Fabbro. No Mato Grosso do Sul, são realizados testes para detectar toxoplasmose, rubéola, doença da inclusão citomegálica, sífilis, Aids, Chagas, hepatites B e C, fenilcetonúria materna, HTLV e hipotireoidismo. Sem a necessidade dos vidros de coletagem de sangue, o método oferece uma logística que economiza gastos por precisar de menos recursos humanos e equipamentos, além de não necessitar de local específico para coleta, com transporte mais rápido e barato, facilitando a triagem das populações de difícil acesso. A agilidade é importante, porque melhora a comunicação entre a gestante e os profissionais de saúde e colabora para que as pacientes iniciem o tratamento o mais cedo possível. “Em locais de difícil acesso, o resultado do exame pode chegar depois que o bebê nasceu. Por isso, é importante sermos rápidos na resposta a essas mulheres. Vamos acompanhar a experiência sul-matogrossense para avaliarmos a expansão do método para outras localidades do país”, afirma o diretor do PNDST/Aids, Pedro Chequer. Parceria – O êxito do projeto deve-se, entre outros fatores, à convênio do governo do estado com o Instituto de Pesquisas, Ensino e Diagnósticos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Campo Grande (Iped-Apae). O laboratório do Iped é o primeiro destino das amostras onde são processados os exames. No caso de resultados alterados, é feita nova coleta para os testes confirmatórios e as amostras são enviadas para o Laboratório Central do Estado (Lacen/MS), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/SP) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/RJ), este último para os casos de HTLV, onde são confirmados os resultados. A prova dessa redução dos custos é o recurso gasto com os testes. O custo atual da bateria dos 11 exames, incluindo todo o material e testes confirmatórios, é de R$ 213,43 por gestante, um valor reduzido, se comparado a outras metodologias. O estado tem a segunda maior população indígena do país, com 55 mil índios vivendo em aldeias; uma extensa área rural; assentamentos e regiões de difícil acesso, onde vivem gestantes que precisam do acompanhamento de profissionais de saúde oferecido no pré-natal. No caso do HIV, da toxoplasmose e da sífilis, os exames são realizados no primeiro e no último trimestre nas gestantes, que vão regularmente às consultas do pré-natal. Como o estado faz fronteira com outros países (Paraguai e Bolívia), recebe mulheres que, por motivos diversos, buscam atendimento nos serviços de saúde da região e depois não retornam, dificultando o acompanhamento da gestação, a entrega dos exames e a prevenção da transmissão vertical do HIV, sífilis e outras doenças nos bebês. Comunicação – Na cidade de Ponta Porã, que faz fronteira com o Paraguai, foi constatado alto índice de sífilis em grávidas. Do total de casos diagnosticados na maternidade desse município, 70% são gestantes paraguaias, o que requer do governo o investimento no diagnóstico, na prevenção e no tratamento. Outra doença sexualmente transmissível bastante detectada naquele país é a clamídia, com taxa de prevalência de 6,8% no país. Tanto a sífilis quanto a clamídia podem ser danosas ao bebê se não forem tratadas, levando ao aborto nos casos mais graves. Outro fator importante nesse programa é a comunicação com as vigilâncias epidemiológicas tanto no estado como em outras localidades, como por exemplo, no Paraguai e em estados brasileiros mais visitados por sul-matogrossenses. “Temos um bom relacionamento com os profissionais do país vizinho, o que facilita o controle dessas patologias em nossa fronteira. Também melhoramos nossa comunicação com outros estados”, conta Márcia. Ela espera poder comemorar nos próximos anos números ainda mais baixos de infecção, morbidade e mortalidade de doenças relacionadas à gestação. Fonte: Agência Saúde – Patricia Alvares – CFM

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