O médico Carlos Alberto Leyvan Cruz e a farmacêutica Dania Hernando Soares deixaram Cuba para uma missão na Bolívia em 2012. Na época, ainda não formavam um casal. Eles ficaram quase um ano atuando no país e se envolveram afetivamente. Incomodados pelas regras do programa, resolveram fugir cruzando a fronteira e acompanhados por outros dois médicos cubanos, um radiologista e uma anestesista.
Os quatro chegaram ao Brasil andando. Na Bolívia, atuavam em Porto Soares, que faz fronteira com Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Eles passaram um tempo na casa de uma brasileira que namorou outro médico cubano do programa boliviano – que, com medo de que a família em Cuba sofresse represálias por causa do relacionamento com alguém de outra nacionalidade – decidiu voltar para o país de origem.
Agora, o casal vive em uma casa alugada com o salário que o médico obtém trabalhando como marceneiro. “Aprendi esta profissão com meu pai, graças a Deus, e isso que está me mantendo”, conta Cruz.
Controle – Carlos Cruz explica porque resolveu fugir: “Era muita pressão no trabalho, não permitiam que mantivéssemos contato e nos relacionássemos com os locais, não podíamos sair do alojamento após as 18 horas, ficavam nos controlando”.
Ele, a companheira e os colegas não estavam com os passaportes, que ficaram com o chefe ‘da brigada’ (o responsável pela missão), logo que chegaram à Bolívia. Isso também ocorreria com os cubanos que vieram para o Mais Médicos no Brasil, segundo denúncia do Conselho Federal de Medicina (CFM).
O grupo atravessou a fronteira sem nada e foi à Polícia Federal que, segundo Cruz, os tratou muito bem. Tiraram CPF e identidade nacionais e pediram asilo político por meio do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).
Ele conta, também, que os quatro precisarão se apresentar a cada seis meses à Polícia Federal. Na verdade, o sonho de todos é participar da próxima prova do Revalida para que possam atuar como médicos no Brasil. Eles até tentaram se inscrever no programa Mais Médicos, mas, como são desertores, não foram aceitos.
Cruz recebia cerca de US$ 700 (aproximadamente R$ 1.615) na Bolívia, mas diz que a forma de pagamento era parecida com a feita no Brasil, ou seja, eles ficavam apenas com uma pequena parte do salário.