O Brasil é campeão em partos cesáreos. De cada dez bebês que nascem, oito vêm ao mundo por intermédio dessa cirurgia nos hospitais particulares. O dado é da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula as operadoras de planos de saúde. É um número quatro vezes maior do que a média verificada na Europa e nos Estados Unidos. Por isso, entidades médicas como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, o Conselho Federal de Medicina, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a própria ANS estão se mobilizando com o objetivo de incentivar o parto normal. A solução encontrada para isso foi criar um pacote de medidas para oferecer mais conforto e segurança à gestante que optar por essa modalidade. Na prática, todas as maternidades do País, públicas ou particulares, terão de se adaptar às novas regras. Uma das principais alterações é a criação de quartos individuais e com espaço para um acompanhante, cujas despesas estarão incluídas na conta das seguradoras de saúde. Além disso, as maternidades deverão oferecer métodos alternativos para aliviar a dor da gestante durante a espera e investir no fortalecimento dos vínculos entre mãe e filho desde os primeiros instantes. Isso significa manter recém-nascidos no quarto, mais perto do calor materno, em vez de deixá-los no berçário. “Com essas medidas, esperamos tornar o parto normal uma opção mais atraente”, afirma Dirceu Barbano, presidente interino da Anvisa. Hoje, quem faz parto normal nem sempre recebe a atenção devida. Em geral, as gestantes são atendidas por um especialista durante o pré-natal, mas o parto costuma ser feito por um plantonista. As acomodações também deixam a desejar. Na maioria das vezes, as futuras mamães ficam em quartos coletivos ou em casa até chegar o momento do nascimento. Nas cesarianas previamente agendadas, a cirurgia é feita pelo especialista que acompanhou o pré-natal. “A frieza no atendimento e a falta de atenção individualizada interferem na escolha. É o que queremos mudar”, afirma Barbano. Vale ressaltar que também não são raros no sistema público os casos em que mãe ou filho morrem porque a “espera” pelo parto normal foi longa demais ou faltou assistência adequada. A partir de agora, porém, devem ser formadas equipes para monitorar as parturientes. Se o médico não estiver a postos, uma enfermeira-obstetra acompanhará a evolução das contrações. Evidentemente, os médicos também têm responsabilidade pelo elevado número de cesáreas. “A opinião deles pesa nas decisões da mulher. Precisam ter maior consciência da sua importância nesse contexto”, diz Martha Oliveira, gerente-geral da ANS e integrante de uma comissão incumbida de buscar alternativas com a categoria. A intenção não é banir as cesáreas. Elas são essenciais quando há complicações que aumentam os riscos para a mãe ou para o bebê. A questão é o exagero. Um estudo feito em 2007 pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) revelou que 93% das cesáreas no Rio de Janeiro são marcadas com antecedência, sem que sejam realmente necessárias. “O resultado dessa escolha pode repercutir no bebê. Muitas crianças nascidas por cesárea apresentam dificuldades respiratórios e precisam de cuidados intensivos”, diz Márcia Maria da Costa, coordenadora médica da Maternidade São Luiz, em São Paulo, onde 90% dos 800 partos mensais são cesáreos. O estudo da ENSP também revelou fatores que condicionam a escolha da cirurgia. “A imagem da mulher sofrendo com as dores do parto é a mais lembrada. Por isso, muitas têm medo de sentir dor”, afirma Martha, da ANS. Isso nunca passou pela cabeça da psicóloga Cida Rabelo. Ela teve os dois filhos, Pedro Henrique e João Victor, por parto normal. Valentina, que nascerá em três meses, virá pelo mesmo método. “Estou até mais tranquila porque agora existem anestesias que tiram a dor sem interferir no ritmo das contrações”, afirma. (fonte: Revista IstoÉ, publicada em 12/01/2009).

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