O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS) vistoriou, no último dia 8, o pronto socorro da Santa Casa e o pronto atendimento do Hospital Universitário e do Hospital Regional Rosa Pedrossian, em Campo Grande, e, nesta segunda-feira (26/05), o Hospital de Urgência e Trauma de Dourados. Segundo o coordenador do Departamento de Fiscalização do CRM, Antônio Carlos Bilo, a intenção foi apurar as reais condições de atendimento aos pacientes de urgência e emergência, além do estoque de materiais de consumo e o funcionamento dos equipamentos. “A realidade é que a saúde padece de subfinanciamento em todo o País e os médicos trabalham em péssimas condições. Faltam vagas nos CTIs e, muitas vezes, materiais essenciais para o atendimento”, afirmou Bilo. “Com o relatório dos médicos fiscais, temos um raio-x da situação dos hospitais”, completou. As vistorias são realizadas periodicamente pelo CRM. O relatório relacionado às vistorias na Capital foi concluído nesta segunda-feira (26/05) – veja o documento, na íntegra, ao final do texto – e encaminhado para a direção dos hospitais e para o Ministério Público Estadual (MPE). Participaram da fiscalização em Campo Grande os médicos fiscais Luís Alberto Verardo e Carlos Pistóia. Ambos informaram que há falta de materiais de consumo e de vagas nos Centros de Tratamento Intensivo (CTIs) – o que resulta na superlotação do pronto socorro e do pronto atendimento. “Várias vistorias já foram realizadas por este Departamento de Fiscalização (CRM-MS) nos últimos cinco anos e observa-se uma piora deste contexto, ficando claro o descaso pela vida humana”, apontam os médicos fiscais no relatório. Santa Casa Verardo explicou que, no dia da fiscalização (08/05), a sala de emergência do PS da Santa Casa estava com os seis leitos lotados. Os seis respiradores estavam funcionando, além de um improvisado, mas havia somente dois oxímetros (equipamento que afere a quantidade de oxigênio no sangue), em vez de sete. “Também faltavam quatro monitores cardíacos”, informou. O médico fiscal lembrou que, por ser referência em casos de alta complexidade, a Santa Casa recebe pacientes de todo o Estado. Das sete pessoas que estavam no PS, somente três eram de Campo Grande. “Para completar, a maioria dos equipamentos é obsoleta”, disse. Hospital Universitário No HU, a situação é ainda mais grave. A fiscalização constatou a falta de equipamentos indispensáveis ao atendimento, como máscaras, gazes, luvas, eletrodos e intracath (agulha de plástico usada para aplicação de medicamentos). “A falta de materiais de consumo é o problema mais grave que encontramos no HU”, afirmou Pistóia. Os três leitos da sala de emergência do pronto atendimento estavam lotados, mas somente um paciente aguardava para ser transferido ao CTI. “Os demais, permanecem porque não há outro local para o atendimento de pacientes que inspiram mais atenção”, explicou. Segundo Pistóia, a superlotação no pronto atendimento e pronto socorro compromete o atendimento de urgência e emergência. “Se acontecer um acidente aqui na esquina com dois feridos, politraumatizados, haverá dificuldade para que eles sejam atendidos, pois os leitos estão ocupados”, analisou. Inevitavelmente, o atendimento será feito nos corredores, como constatou a fiscalização do CRM-MS. “O espaço é insuficiente e faltam macas. Muitas vezes há 27, 30 pessoas nos corredores”, informou a enfermeira responsável pelo Pronto Atendimento do HU no período matutino, Keli Sandra. A precariedade dos equipamentos e a falta de materiais de consumo também foi atestada pelos profissionais que trabalham no hospital. “A tomografia é ultrapassada, o raio-x é uma tragédia e faltam máscaras, gases e intracath”, disse o médico plantonista Antônio Rodrigues. Hospital Regional Na sala com estrutura para seis leitos, haviam 10 pacientes internados, sendo quatro em ventilação mecânica – dos quais três aguardando vaga no CTI e um esperando transferência para a Unidade Coronariana. A fiscalização detectou deficiência no número de bombas de infusão, de oxímetros, esfigmomanómetro e macas. “Felizmente, os equipamentos que estavam na sala estavam funcionando e, segundo a enfermeira responsável, não estão faltando materiais de consumo”, informou Pistóa. Dourados O presidente do CRM-MS, Sérgio Renato de Almeida Couto, vistoriou nesta segunda-feira (26/05) o Hospital de Urgência e Trauma de Dourados, onde constatou a precariedade do atendimento prestado à população. Segundo ele, está sendo elaborado um relatório sobre a situação do hospital, que será encaminhado ao MPE e aos gestores da unidade cobrando providências. “Constatamos que houve uma piora das condições de atendimento no hospital, em relação à última vistoria, realizada no final de fevereiro”, informou Couto. Hoje, o presidente do CRM verificou a superlotação e a ausência de médicos assistentes, plantonistas e pediatras, além da dificuldade para o atendimento aos politraumatizados. “Tem paciente que acaba rodando a cidade toda para ter o atendimento completo, que deveria ser oferecido no hospital”, concluiu Couto. ################################### Campo Grande-MS, 08 de maio de 2008 AUTO DE CONSTATAÇÃO Referência: Associação Beneficente de Campo Grande – Santa Casa Fundação Serviço de Saúde do Estado de Mato Grosso do Sul –Hospital Regional Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Hospital Universitário I – Preâmbulo: Aos oito dias do mês de maio de 2008, conforme determinação do Dr. Sérgio Couto, Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Mato Grosso do Sul, comparecemos, enquanto médicos fiscais, aos Estabelecimentos supra mencionados, com a finalidade de verificar as condições da assistência prestada aos pacientes internados nas salas de Emergência, bem como a procedência destes. II – Descrição No período matutino foram vistoriadas as salas de Emergência da Santa Casa e do Hospital Universitário, sendo que a sala do Pronto Atendimento do Hospital Regional foi vistoriada no período vespertino. A Vistoria foi acompanhada pelo repórter Ricardo de Castro, prestador de serviços para o CRM/MS, o qual além das anotações pertinentes, elaborou o trabalho fotográfico. Nos três locais as informações foram colhidas através do médico plantonista e/ou da enfermagem. Em todos as salas de Emergência foi constatado a presença de pacientes graves, em ventilação mecânica que ali estavam por falta de vagas nas Unidades de Terapia Intensiva e todas as salas encontravam-se lotadas, conseqüentemente condições precárias para atendimento de caso novos, tanto devido ao espaço físico quanto a falta disponibilidade de aparelhos de suporte vital. O trabalho foi realizado sem aviso prévio para a Direção Administrativa e Clinica, objetivando maior realidade da situação no momento das Vistorias, as quais são descritas abaixo de forma individualizada. A)– Pronto Socorro/Santa Casa/Sala de Emergência: Sala com estrutura para 06 (seis) leitos, e espaço físico insuficiente para o atendimento concomitante de pacientes graves, que freqüentemente chegam trazidos pelo SAMU e/ou Corpo de Bombeiros. Possui seis respiradores obsoletos (BIRD), que freqüentemente necessitam de manutenção. Há apenas dois oxímetros e três monitores cardíacos em condições de funcionamento. Não foi observada falta de material de consumo e medicamentos. No momento da vistoria presenciou-se além dos seis respiradores ocupados, um sétimo paciente proveniente da enfermaria, entubado num respirador conseguido de outro setor do Hospital, sendo atendido no centro da sala. Também um oitavo paciente que necessitou de suporte ventilatorio, recebeu este atendimento por entubação endotraqueal e ventilação por ambu, durante várias horas até ser conseguido vaga em outro setor. Diante deste quadro o atendimento à pacientes graves que por ventura chagassem seria inviável. Todos pacientes em ventilação mecânica estavam aguardando vagas em CTI, com patologias cuja referencia para tratamento é a SANTA CASA, sendo quatro destes pacientes oriundos do interior do Estado (Bela Vista, Aparecida do Taboado, Terenos e Aquidauna). B)– Pronto Atendimento/Hospital Universitário/Sala de Emergência. Sala com capacidade para três leitos, com espaço físico e estrutura insuficiente para atendimento ao quarto paciente externo grave, que eventualmente chegue ao serviço ou que esteja internado e necessite de ventilação mecânica. A sala possui dois respiradores (BIRD) e um (NEWPORT), duas saídas para oxigênio, três monitores cardíacos e três oxímetros. Não foi referido pelos plantonistas deficiência e material permanente (exceto macas) e medicamentos,contudo com relação a material de consumo há no momento falta de intracath, máscara de 02, gase, cateteres venosos, eletrodos, aventais, luvas de procedimento, bandejas de pequenas cirurgias, máscaras de venturi, lidocaína injetável e máscaras de proteção. Observou-se durante o atendimento a uma paciente com suspeita de infarto agudo miocárdio, a demora de 10 minutos para o encontro de um intracath e uma máscara de 02 solicitados pelo médico assistente. No momento da visita havia quatro pacientes internados, sendo um em ventilação mecânica e aguardando vaga em CTI. Todos residentes nesta capital. C)– Pronto Atendimento/Hospital Regional. Sala com estrutura para 06 (seis) leitos, havendo 06 respiradores, 07 oxímetros, 10 monitores e15 bombas de infusão, em boas condições de funcionamento. No momento da visita haviam 10 pacientes internados no setor, sendo 04 em ventilação mecânica, dos quais 03 aguardando vaga no em CTI e 01 aguardando vaga na UCO. Quatro pacientes oriundos de Campo Grande e os demais das cidades de Nova Alvorada do Sul, (01), Chapadão do Sul (01), Miranda (02), Aquidauana (01), Maracaju (01). Foram relatados deficiência de número de bombas de infusão, de oxímetros, esfigmomanómetro e macas. Medicamentos e material de consumos disponíveis e suficientes. Conclusão: Conclui-se que a falta de leitos de C.T.I, bem como a não existência de unidades intermediarias, produzem nos setor de Emergência dos Hospitais em questão, acúmulo de pacientes, que lá permanecem internados por vários dias, com atendimento aquém do ideal pela gravidade de suas patologias. Os profissionais de saúde ficam com suas atividades limitadas devido as condições físicas inadequadas das salas, falta de material permanente e/ou de consumo e a superlotação de pacientes. Varias vistorias já foram realizadas por este Departamento de Fiscalização (CRM/MS) nos últimos 05 (cinco) anos e observa-se uma piora deste contexto, ficando claro o descaso pela vida humana. Dr. Luís Alberto L. Verardo Médico Fiscal do CRM/MS Dr. Carlos Vinicius P. de Oliveira Médico Fiscal do CRM/MS (fonte: CRM-MS – 26.05.2008)

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