O Conselho Federal de Medicina (CFM) participou, nessa terça-feira (14), de audiência pública promovida pelas comissões de Saúde e do Esporte da Câmara dos Deputados para debater a “Agenda Legislativa 2025 do Painel Brasileiro de Obesidade”. Representando o CFM, o médico Álvaro Albano, integrante da Câmara Técnica de Cirurgia Bariátrica e Metabólica da autarquia, alertou que a obesidade é a maior epidemia do século XXI e requer ações urgentes e coordenadas do poder público.
Especialista em cirurgia do aparelho digestivo e endoscopia, Albano destacou que 60% da população brasileira está acima do peso, sendo 31% com obesidade. Ele ressaltou que o Brasil avançou no enfrentamento da doença, mas que ainda está muito longe do cenário ideal. “Deixamos de tratar a obesidade como um problema de comportamento individual para reconhecê-la como uma doença crônica, multifatorial e de base genética, com evidências científicas robustas. O erro histórico de culpar o paciente contribuiu para os números alarmantes que temos hoje”, afirmou.
Dados apresentados pelo representante do CFM mostram a rápida evolução da obesidade no País: em 2010, 15% da população apresentava obesidade; em 2021, o índice subiu para 22%, e a projeção para 2025 é de 31%. A previsão para 2044 é ainda mais grave: 48% dos adultos com obesidade e 75% da população acima do peso, segundo estimativas da Fiocruz.
Albano alertou para as consequências clínicas e sociais dessa epidemia: 16,8 milhões de adultos são acometidos por diabetes tipo 2. Em 2022, foram realizados mais de 10 mil procedimentos de amputações por diabetes. “Pacientes em diálise por complicações do diabetes foram cerca de 60 mil em 2023. Além de tudo isso, ainda há cânceres associados à obesidade, com previsão de 45 mil novos casos em 2024, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)”, declarou.
O impacto econômico também é expressivo: os custos diretos e indiretos da obesidade no Brasil chegam a US$ 38,7 bilhões por ano, com projeção de aumentar de 2% para 3,8% do PIB até 2060. “Estamos perdendo essa guerra. Se as políticas continuarem as mesmas, o cenário futuro será devastador”, advertiu o médico.
O representante do CFM destacou ainda o avanço das terapias medicamentosas e cirúrgicas no controle da obesidade. Os análogos hormonais simples ou combinados já proporcionam 10% a 20% de perda de peso, enquanto a cirurgia bariátrica pode reduzir 30% a 40% do peso corporal.
De 2020 a 2024, foram realizadas 291.731 cirurgias bariátricas no Brasil – 260.380 pela rede privada e apenas 31.351 pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que representa uma cirurgia pública para cada nove realizadas no setor privado. “Apenas 0,2% dos pacientes com indicação cirúrgica conseguem realizar o procedimento pelo SUS. Isso precisa mudar”, defendeu Albano.
Em sua fala final, o representante do CFM reforçou que a obesidade é uma epidemia em evolução, com projeções alarmantes e estratégias de tratamento eficazes, mas ainda inacessíveis à maior parte da população. Ele defendeu uma ação conjunta e uma força-tarefa nacional para enfrentar o problema. “Sem uma política pública abrangente e integrada, continuaremos a ver crescer o número de brasileiros amputados, em diálise ou com doenças crônicas evitáveis. É hora de agir”, concluiu.