Cerca de sessenta e quatro mil brasileiros estão na fila de espera de transplantes. Apenas seis pessoas em 1 milhão doaram órgãos no país no ano passado. Esses números têm se tornado críticos, pois a tendência é que a fila aumente devido à maior demanda por órgãos. Apesar de o Brasil sustentar o segundo lugar em número de transplantes, sendo mais de 90% realizados pelo sistema público de saúde, em valores absolutos é preocupante o número de vidas que ainda dependem de uma doação. A questão da retomada do crescimento dos transplantes no Brasil será discutida no II Fórum de Transplantes do CFM, a se realizar em agosto no Conselho Federal de Medicina, por intermédio da Câmara Técnica de Transplantes. Uma das grandes dificuldades no processo de transplantes é em se localizar um doador. De cada oito potenciais doadores, apenas um é notificado na Central de Captação de Órgãos (CNCDO). No ano passado, das dez mil mortes encefálicas registradas, apenas a metade foi notificada. Isso mostra que talvez não seja a falta de doadores o maior problema, e sim a estrutura deficiente, com um sistema falho de captação e distribuição. Os problemas começam, então, com a subnotificação e se estendem pelo processo. A partir do diagnóstico da morte encefálica, o tempo máximo que se pode esperar para a retirada dos órgãos são 72 horas. Um coração só pode ser utilizado até seis horas depois da morte do doador. É nessa hora que se percebe a falta de indicadores logísticos para que todo o sistema funcione. O ideal seria que os hospitais tivessem aviões e helicópteros à disposição, pois dos 18 estados que contam com um serviço de transplantes de coração e pulmão (órgãos que precisam ser transportados com mais rapidez), apenas Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco têm aeronaves para esse fim. Os outros dependem da benemerência das companhias aéreas privadas. A quantidade de procedimentos burocráticos também acaba atravancando o processo. No Brasil, da notificação até a devolução do corpo do doador à família leva-se cerca de 30 horas. Isso em um cenário otimista, porque essa demora pode levar dias. Espera-se que a descentralização (autorização para mais hospitais realizarem essas cirurgias) seja uma solução prática para a diminuição das filas. Brasília e Goiás, por exemplo, têm condições de realizar transplantes, mas os doentes ainda são mandados para São Paulo. No entanto, apenas a autorização de transplantes nos hospitais não resolve todo o problema. O HUB (Hospital Universitário de Brasília) conseguiu a liberação, mas realizou apenas três cirurgias desde então. A falta de infra-estrutura, de espaço físico, de profissionais preparados e de doadores de órgãos atrapalham o andamento do programa de transplantes na rede pública. Cerca de dez pessoas morrem todos os meses em Brasília à espera de cirurgia. A descentralização dos hospitais é vista como uma das soluções, mas depende também de aumentar a capacidade de atendimento dos centros cirúrgicos, investir na captação de órgãos e comprar equipamentos necessários à identificação da morte cerebral. No Nordeste, a situação é ainda pior. O transplante de pâncreas, por exemplo, não é feito por nenhum Estado. O treinamento dos profissionais acontece no Sudeste do país, com preparação de, no mínimo, seis meses. E são estes profissionais capacitados que estão em falta em estados como o Piauí. Em Pernambuco, houve uma redução de 40% dos procedimentos. No caso específico do transplante de córneas, houve uma redução de 56%. Além dos problemas de notificação de morte encefálica, também existe a dificuldade em se encontrar doadores vivos. São pessoas com saúde, que na maioria das vezes, não recorrem a exames desse tipo. São exames caros e que o SUS não cobre. A complexidade de um transplante e a dificuldade de se encontrar um doador têm pressionado a existência de um mercado negro de órgãos, que mais prejudica do que resolve o problema dos pacientes. A realização dessas operações é, na prática, impossível, pois seria necessária uma associação ilícita com uma infra-estrutura somente oferecida por grandes hospitais e profissionais muito bem capacitados que não se arriscariam em uma prática ilegal tão facilmente detectável. Cada tipo de transplante conta com uma dificuldade diferente. Num transplante renal, quase metade dos doentes avaliados sequer chega a efetivar a operação. 14% das cirurgias são realizadas sem sucesso, podendo levar o receptor a óbito. Para um transplante cardíaco, de 20% a 40% dos pacientes em fase de espera de doador compatível falecem. No transplante de pulmão, a dificuldade é o acesso do paciente aos ambulatórios de triagem dos potenciais receptores. No Brasil, há mais de 400 equipes habilitadas a realizar transplantes. Um dos grandes problemas é a captação de órgãos. Ainda falta informação sobre a morte encefálica, deixando muitas famílias receosas em permitir a doação dos órgãos. Além da falta de informação sobre o assunto, existe ainda o drama dos médicos de comunicar a perda do parente às famílias. Fonte: Portal Médico

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