Nos últimos dias os brasileiros sensatos tem-se surpreendido com as noticias, algumas estarrecedoras sobre o comportamento do brasileiro na pandemia. Parece ter sido em todas as capitais, mas principalmente no Rio de Janeiro, quando em todos os finais de semana são identificados inúmeros pontos de aglomerações populares, shows com cantores famosos e festas dos mais diferentes motivos.

Quando a polícia chega, nem sempre conseguem dispersar a multidão, aglomerada, sem o uso de máscaras, e quando o conseguem, os grupos saem daquele local e rapidamente se aglomeram em outros… e a festa…continua.

As semanas se sucedem, e o número de óbitos aumentam de forma crescente, nenhuma das recomendações para a população surtem efeito, surgindo as explicações as mais divergentes possíveis.

Recentemente a segunda maior autoridade do país, comentou sobre a dificuldade da população em seguir orientações sobre assuntos que teoricamente interessam à população que são as medidas preventivas: distanciamento social e o uso de máscaras. Neste momento, esta autoridade considerou que a dificuldade de seguir orientações é um traço populacional brasileiro, mas que não se mantém.

Antropólogos, dentre eles o de maior importância, Darci Ribeiro, passou a sua vida tentando caracterizar o povo brasileiro, sem o conseguir em decorrência da multiplicidade de etnias, de culturas, de fatores intervenientes…e fazendo coro ao seu comentário, talvez o mais importante de todos: …o bom do Brasil é o brasileiro…

Considerar que o povo brasileiro é assim mesmo…é muito simplista…e…cômodo.

Os estudiosos das ciências sociais (sociologia, antropologia, psicologia) interpretam uma multiplicidade de fatores intervenientes, no desenvolvimento individual e populacional. Alguns traços, algumas condutas individuais, com alguma frequência são reflexos do social, do coletivo, e, que poderíamos simplificar considerando os mecanismos de identificação e semelhança de condutas.

Semelhança em acontecimentos, fatos, objetos e fenômenos significam reconhecer o que tem de parecenças, de igualdades ou de proximidades entre eles. O mecanismo de identificação pode trazer duplo sentido: o primeiro é o de se reconhecer; o segundo é mais complexo, com o significado de “trazer, copiar, assimilar”, e que terminam se transformando em atos, em condutas individuais ou coletivas.

O homem é um animal político, como bem lembrado pelo filósofo Aristóteles. Assim, desta forma o homem sempre se coloca, se posiciona frente às situações rotineiras ou extraordinárias, inopinadas, seja imitando, copiando ou reproduzindo as condutas das pessoas que naquele momento estejam em postos de comando sociais, administrativos ou políticos.

Em situações que causam preocupação é frequente a pessoa usar o argumento de que não quer se indispor, portanto não quer tomar partido. Abstém-se. Não percebe que já tomou partido e que deverá obedecer, se submeter a qualquer decisão que seja.

As pessoas tem este direito de escolher ou torcer por este ou aquele, ou para ninguém. Mas o médico não tem este direito. Ao médico não é dado o direito de ser neutro. Ele tem um partido (não político) que é o bem-estar do paciente. Isto há mais de 25 séculos.

Na história da medicina, em todos os tempos, em todas as epidemias, em todas elas o médico foi primordial, cumprindo o seu papel, mesmo exposto aos mesmos riscos que a população. Ao longo da história e hoje este deve ser o partido, o lado do paciente (não esquerda, direita ou centro) É o partido do paciente.

Todas as vezes em que ocorre a partidarização, a polarização, o médico deve ter claro que o seu partido é o paciente. Todas as vezes que há polarização a população, e o paciente sofrem, por vezes com a cumplicidade, negligência ou omissão do médico que se identificam com os políticos que no momento detém o poder.

Não devemos esquecer, que os políticos que assim agem e os médicos que pelo mecanismo de identificação e reconhecimento não só apoiam, como também os seguem, deixou de lado o seu compromisso com a população, com o paciente.

Passa a ter conduta semelhante ou assiste ao seu modelo, deixa de ter o compromisso com o paciente e com a população e passa a ter o compromisso com o seu modelo, com o seu exemplo…e assim também será julgado pela história.

Neste momento, nós médicos, estamos envolvidos submersos num acumulo de informações, grande parte delas falsas, não verdadeiras, de todas as tendências (esquerda, direita, centro), esquecendo o senso crítico, e acreditando como verdades, as notícias, as mais disparatadas, as mais absurdas e que passa a ter o peso de verdade absoluta.

Quem perde?
É o paciente…é a população… é a Medicina (com M maiúsculo), frequentemente abandonada ou usada como…massa de manobras.

E a história? Ela passou, passa e passará.

Juberty Antonio de Souza
Médico…ou que procura ser…

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