O baixo investimento em pesquisa para desenvolvimento de fármacos e técnicas para o tratamento e cura das chamadas doenças negligenciadas foi um dos alertas feitos pelo conselheiro Henrique Batista e Silva, secretário-Geral do Conselho Federal de Medicina (CFM), que representou a autarquia em debate realizado sobre o tema no Senado Federal. Da mesa, participaram importantes especialistas que trouxeram contribuições para o combate a estes males que afetam, principalmente, o segmento mais vulnerável da população.
 

De acordo com Silva, estima-se que menos de 10% dos recursos para pesquisa biomédica no mundo sejam direcionados aos problemas responsáveis por 90% da carga atual de doenças. Ou seja, a parcela mais significativa dos investimentos estão focadas nos problemas que afetam um menor número de pessoas, mas que, por outro lado, geram mais lucro pelo alto custo de produção e venda das formulas desenvolvidas.
 

“Há um problema histórico grave neste cenário. O financiamento dos estudos não privilegia os estudos de medicamentos sem perspectiva de retorno econômico. Estes trabalhos são condenados ao limbo pela indústria farmacêutica, apesar de sua alta relevância epidemiológica e social. Trata-se de um conflito ético e moral que se instalou no campo da ciência”, ressaltou.
 

Na sua exposição, o secretário-Geral do CFM ressaltou que a assistência à saúde não pode ser comparada a uma mercadoria.  Para ele, a superação desse desafio exigirá uma postura firme do poder público e das organizações da sociedade civil, incluindo as que são ligadas à medicina.
“O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional”, lembrou, referindo-se aos compromissos assumidos pelos profissionais em seu Código de Ética.
 

Na reunião realizada na terça-feira (16), na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, sob a presidência do senador José Medeiros (PPS-MT), a presidente do Departamento de Dermatologia da Associação Paulista de Medicina, Leontina Margarido, lembrou que muitas das doenças negligenciadas têm cura a partir de um diagnóstico precoce.
 

“No caso da moléstia de Hansen, por exemplo, um paciente em fase inicial gasta US$ 10 por mês e, em seis meses, está curado. O doente com diagnóstico tardio gasta US$ 20 por mês por dois anos e não tem todas as necessidades atendidas. Sem falar nas sequelas psicológicas e sociais”, alertou.

Segundo Henrique Batista, menos de 10% dos recursos para pesquisa biomédica no mundo são direcionados à cura de doenças negligenciadas

Segundo Henrique Batista, menos de 10% dos recursos para pesquisa biomédica no mundo são direcionados à cura de doenças negligenciadas

 O representante do Ministério da Saúde, Alexandre Medeiros de Figueiredo, disse que o desafio não é só agilizar o diagnóstico, mas investir em ações de vigilância e comunicação para combater a ignorância. “Essas doenças não devem gerar exclusão. Tuberculosos e hansenianos sofrem grande discriminação nas suas comunidades. Estigmatizar e excluir foram no passado as formas de lidar com esses problemas. Hoje não mais”, afirmou o especialista, depois de lembrar que no Brasil, de 1924 até meados dos anos 60, existia internação compulsória parapacientes diagnosticados com hanseníase.


Já o representante do Ministério da Educação, Vinícius Ximenes, ressaltou que o MEC vem realizando um ciclo de reformas nas diretrizes curriculares nacionais. Segundo ele, mudanças importantes foram feitas em 2001 e em 2014 para “deixar o ensino médico à altura dos desafios do século 21”. Para Ximenes, a evolução tecnológica e a especialização da medicina ao longo dos anos mascararam a fragilidade dos profissionais: a clínica geral.
 

Também participaram da audiência pública o médico o presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), Sigisfredo Luis Brenelli, que criticou a falta de diálogo entre os agentes de financiamento e os grupos de pesquisa no País, e a Integrante do Grupo de Apoio às Mulheres Atingidas pela Hanseníase (GMAH), Marli Araújo (com informações da Agência Senado).

Facebook Instagram
Aviso de Privacidade
Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar o Portal Médico, você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Política de cookies. Se você concorda, clique em ACEITO.