A incidência crescente de doenças como zika, dengue e chikungunya resultam diretamente da falta de investimentos do Governo – em suas três esferas – em ações de saneamento no País. De acordo com o presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital, se há três décadas, quando o Aedes aegypti voltou a assustar o Brasil, essas medidas tivessem sido colocadas em prática de forma prioritária a situação atual seria bem diferente.

De acordo com ele, há ausência de planejamento. “Se isso tivesse sido feito, a situação atual seria bem diferente”, alertou. De acordo com dados divulgados pela imprensa, o montante destinado ao controle desse mosquito caiu de R$ 363,4 milhões, em 2013, para R$ 143,7 milhões, em 2015. Essa queda representou uma redução de 60% no volume de recursos repassados às prefeituras com a finalidade de controle do vetor dessas doenças e mazelas.

Por outro lado, as dificuldades se consolidam. “Em 2015, houve 1,6 milhão de registros da doença, que causou 863 mortes. Ocorreu ainda a intensificação dos problemas relacionados à zicavirose, microcefalopatia e síndromes por danos fetais provocados ao tubo neuronal durante a gestação”, afirmou o presidente do CFM

Busca de subsídios – Como parte do esforço para compreender os diferentes aspectos relacionados ao zika vírus e à microcefalia, o tema foi tratado durante o I Encontro Nacional das Conselhos de Medicina (I ENCM 2016), que termina dia 4 de março em Natal (RN). Na reunião, que contou com a presença de 200 participantes de todos os estados, discutiu-se a propagação do problema no Brasil e no mundo, as formas de diagnóstico da doença, o esforço governamental e a mobilização social para combater o Aedes aegypti, entre outros aspectos.

Na oportunidade, representantes do governo e médicos que atuam no atendimento a pacientes com zika e microcefalia foram unânimes em afirmar que o País enfrenta um quadro de epidemia. Em sua conferência, o coordenador-geral de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Sérgio Nishioka, afirmou que o governo brasileiro tem trabalhado em três frentes: combate ao vetor, cuidados com paciente e fomento à pesquisas sobre o tema. Ele admitiu que o controle ao mosquito Aedes aegypti tem sido difícil, apesar da diversidade das formas de combate: de campanhas de conscientização ao controle biológico do inseto.

Além disso, ele relatou mudanças em protocolos de atendimento e oferta de cursos de atualização como forma de melhorar o atendimento a pacientes. Nishioka anunciou que será ampliada em breve a rede de laboratórios aptos a realizar o exame sorológico para detecção do zika vírus. Sobre o exame, disse, também, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) está buscando padronizar os procedimentos. “Não existe uma sorologia validada. Os Estados Unidos realizam um teste que não é reconhecido pelo Reino Unido”, exemplificou.

Ele revelou ainda que a OMS está muito empenhada em encontrar antídotos contra a zika. “Como eles foram muito criticados por terem agido tardiamente na epidemia do ebola, não querem receber a mesma acusação agora”, informou. Apesar dos esforços recentes, ele acha que em menos de três anos não será possível encontrar uma vacina para o zika vírus.

Múltiplos desafios – Os aspectos clínicos da microcefalia foram abordados por vários especialistas como a neurologista infantil do Instituto de Medicina Integrada Fernando Figueira (IMIP) Ana Maria van der Linden, o secretário Municipal de Saúde do Recife, Jailson de Barros Correia e a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Pernambuco Maria Luíza Bezerra Menezes.

Na mesa coordenada pelo 2º vice-presidente do CFM, Jecé Brandão, a neurologista Ana van der Linden explicou que a microcefalia não é uma doença, “mas um sintoma de uma afecção encefálica”. Em sua apresentação, justificou como chegou à conclusão de que a microcefalia encontrada em bebês nascidos a partir de outubro do ano passado fora causada pelo zika e mostrou imagens de algumas crianças e das tomografias realizadas em seus crânios.

Ela também compartilhou dúvidas que assolam os médicos que estão envolvidos no atendimento dessas crianças. “Por que, em gravidezes gemelares, apenas uma criança apresenta microcefalia? Será que o irmão vai se desenvolver de forma saudável? Só o tempo dirá”, ponderou. A neurologista defendeu a realização de tomografias computadorizadas em todas as crianças que apresentarem dois desvios padrão em relação ao perímetro encefálico.

O secretário municipal de Saúde de Recife, Jailson de Barros Correia, afirmou que as equipes que estão atendendo os bebês com microcefalia estão exaustas. Além disso, temos o chigungunha, que é “quem está lotando os nossos hospitais”. Segundo Correia, o governo e a população recifense se mobilizaram para realizar o controle do mosquito e estão tendo bons resultados. De acordo com seu relato, o nível de infestação pelo Aedes Aegypti caiu consideravelmente entre novembro de 2015 e janeiro de 2016. “O caminho é controlar o vetor”, defendeu.

A obstetra Maria Luíza Bezerra Menezes discorreu sobre o dilema reprodutivo hoje enfrentado pelas mulheres desejosas de ter filho. “Mulheres que já estão com mais de 38 anos e que tinham planejado a gravidez para este momento, não sabem se enfrentam a situação, ou se aguardam, podendo perder a chance de engravidar”, contou. Ela também cobrou do governo uma maior disponibilização de métodos contraceptivos para as mulheres jovens e defendeu a disponibilização de implantes subcutâneos, que têm validade de três anos. Para os bebês cuja microcefalia foi confirmada ainda na fase intrauterina, a orientação da especialista é que façam o teste acústico, o do pezinho e o oftalmológico. Também deve ser preconizada a amamentação e realizada a estimulação precoce.

 

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