Entidades médicas, poder judiciário e polícia discutem medidas para tratamento de usuários e combate ao tráfico de drogas no Brasil  

“Avanços Atuais na Abordagem ao Usuário de Drogas”. Esse foi o tema da mesa redonda coordenada pelo presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato de Grosso do Sul (CRM-MS), Juberty Antônio de Souza, durante a 5ª Jornada de Atualização Científica do Hospital Militar. O evento aconteceu entre os dias 26 e 30 de setembro, no auditório na Câmara Municipal de Campo Grande.

Na Abertura dos trabalhos da sexta-feira (30), o presidente do CRM-MS falou sobre a importância da discussão e lamentou a falta de atendimento adequado ao dependente químico no Sistema Único de Saúde (SUS).

Combate Policial – Na sequência das atividades, o delegado da Polícia Federal (PF), Fernando Paganelli Rodrigues, explanou sobre o trabalho da PF no combate ao tráfico de drogas, apresentou estatísticas e disse que o Brasil é um dos países que servem de rota ao tráfico e que há pouco tempo entrou para lista de países consumidores de drogas.

Segundo Paganelli, o mercado de drogas classifica as nações de três formas: países produtores, países de trânsito e países consumidores. “O Brasil entrou para ranking de países consumidores devido ao crescimento econômico e populacional pelo qual vem passando nos últimos anos”, explicou o delegado.

Ainda de acordo com dados da PF, a Colômbia, Peru e Bolívia fazem parte das nações produtoras de drogas. Na sequência estão Equador e Venezuela e, em menor escala estão o Paraguai e o Brasil.

Uma das ações da PF no combate ao tráfico é a Operação Sentinela, uma estratégia, em parceria com diversas seguranças nacionais, com objetivo de reprimir o contrabando, tráfico de drogas e armamentos nas regiões de fronteira.

Justiça – Duras críticas ao sistema judiciário brasileiro foram feitas pelo juiz Odilon de Oliveira, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que também compôs a mesa redonda. Para ele, a Lei 11.343 (Lei do Tráfico) está longe de alcançar seus objetivos e só tem contribuído para o aumento da população carcerária.

Para Odilon, o sistema prisional estimula o crime e não recupera o indivíduo. “Todas as facções criminosas deste país nasceram dentro das prisões”, disse o juiz federal.

Odilon de Oliveira lembrou ainda que o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking de consumo de drogas injetáveis, o que resulta em outra problemática, o aumento do contágio do HIV por meio de seringas.  “A dependência química não é um problema só do usuário e da família. É um problema da sociedade, do Brasil”, enfatizou Odilon.

Tratamento – O presidente da Associação Sul-Matogrossense de Psiquiatria, Kleber Menenghel Vargas, abordou aspectos do tratamento médico aos usuários de drogas. Falou sobre os motivos que levam o indivíduo a usar entorpecentes, entre eles, a busca por novas sensações, pelo prazer, por uma forma de aliviar sintomas desagradáveis, pressão do grupo e meio no qual convive e etc.

De acordo com Menenghel, 47% dos municípios brasileiros não possuem Centro de Assistência Psicossocial (CAPS) e existem apenas 2,3 leitos psiquiátricos para cada 10 mil habitantes.

“O melhor tratamento para dependentes químicos, ainda é a prevenção”, finalizou Menenghel.

Políticas Públicas – “Não investimos em saúde pública nem a metade do que se gasta para manter o sistema carcerário brasileiro. Estamos transformando nossas cadeias em manicômios”. Essas foram algumas das considerações feitas pelo presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, que elencou as deficiências da saúde pública no atendimento aos dependentes químicos e doentes mentais.

 Antônio Geraldo apresentou estatísticas sobre a população carcerária brasileira. O país mantém cerca de 500 mil presos, desse total, 12%, ou seja, 160 mil são doentes mentais graves. Segundo ele, esses presos deveriam estar internados e recebendo tratamento adequado.

“Em contrapartida, o Brasil, nos últimos anos, fechou 200 mil leitos públicos em todas as áreas da Medicina. Aproximadamente 90 mil leitos psiquiátricos foram fechados. Isso é um luxo”, considerou.

 “Quando chamamos uma área de ‘Cracolândia’ reconhecemos publicamente que determinado lugar é usado para consumo e vendas de drogas”.  “A ‘Cracolândia’ não pode ser reconhecida”, disse Antônio Geraldo, referindo-se aos problemas sociais decorrentes do crack e da falta de preparo do poder público para lidar com a questão.

 Fonte: Assessoria de Imprensa – CRM-MS

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