Os princípios hipocráticos foram estabelecidos no Século V aC e eles apontavam para os princípios que deveriam nortear a conduta do médico. Estavam baseados na medicina que se praticava, em que os grandes problemas médicos persistem até hoje, assim como os objetivos dos médicos ainda são bem atuais.

Lembrando-os: o primeiro é curar sempre que possível; o segundo é diminuir a dor quando a cura não for possível; e o terceiro tão importante quanto os dois que era: consolar sempre. Consolar sempre quando nem a cu4a e nem a minimização do sofrimento não fossem possíveis.

Assim a medicina atravessou séculos com influências segundo os períodos históricos e as culturas presentes. Tivemos a medicina nos diferentes impérios no oriente médico, no extremo oriente; tivemos a medicina religiosa presente principalmente na Idade Média; logo avançando pra o renascentismo que também teve a participação da medicina, em que o modelo assistencial era voltado para as familia; posteriormente com o nascimento e o incremento da ciência houve um avanço muito grande no conhecimento das doenças, dos fatores etiológicos e do inicio de uma terapêutica mais científica.

Naquele período era mais simples exercer a Medicina. Existiam menos doenças conhecidas, mens opções terapêuticas, e o modelo continuava a ser o de assistência familiar e voltando-se gradativamente para os hospitais em função do avanço tecnológico.

O avanço tecnológico se deu em todos os campos, inclusive na medicina, sendo que houve uma explosão de informações e que permitiram aos médicos saber mais sobre as doenças, mais sobre as possibilidades terapêuticas, variando os locais e se firmando cada vez mais a figura hospitalar como ambiente terapêutico.

O acúmulo de informações, a expansão das possibilidades terapêuticas levaram os médicos a necessitarem maior quantidade de conhecimentos e absorverem maior número de procedimentos que até então. De acordo com as características de cada médico de cada região, de cada cultura ficava mais difícil ao médico deter conhecimentos aprofundados de cada órgão, de cada sistema fisiológico com as suas alterações. Foi um movimento global em que alguns médicos perceberam que não conseguiam acompanhar as informações recebidas, e passaram a se dedicar mais à algumas doenças, alguns órgãos ou sistemas, passando a prestar às pessoas com doenças decorrentes destas alterações.

Estavam nascendo as especialidades. Não pelo apelo financeiro, mas para que as pessoas continuassem a receber a melhor assistência de acordo com as suas necessidades.

Com a evolução verificamos que cada vez mais os médicos escolhiam serem especialistas, já que o clínico geral se tornou a especialidade mais difícil de se manter razoavelmente atualizado nas alterações do organismo em sua totalidade, bem como das possibilidades terapêuticas.

Com a aquisição de novas informações verificamos a existência de 54 especializações, além de outro tanto de áreas de atuação, ou seja, a especialização da especialização. Em tom de galhofa afirmamos que o bom especialista é aquele que sabe tudo … de nada.

Também o mundo mudou. As necessidades humanas também. Qualquer jovem procura o seu sucesso profissional e financeiro. Desta forma pessoas, principalmente os mais novos apresentam anseios nesta via. Vivenciamos uma era em que mais do que ser as pessoas buscam o ter.

A Medicina, e os médicos, também foram atingidos. Hoje a busca pela especialidade sofre um forte financeiro. Algumas especialidades, notadamente Dermatologia (pela cosmiatria); plástica pela busca do corpo ideal tem sido os maiores alvos dos jovens médicos em busca de sucesso.

Neste compasso lembramos da especialidade da Cirurgia Plástica. A sua identificação iniciou-se com a assistência, com o atendimento das pessoas vítimas de grandes queimaduras, das sequelas dos politraumatizados, da mamoplastia das mulheres que possuíam mamas grandes e que levavam a consequências na coluna, crianças com “orelha de abano”, das pessoas com nariz torto, que levavam a problemas respiratórias, entre outras, mas sempre em busca da diminuição do sofrimento e em busca o reestabelecimento funcional.

A cirurgia plástica era assim uma especialidade voltada para a reconstrução, para a reparação o que fazia que era muito mais preocupada pelos idealistas, para quem precisava fazer reparações ou reconstruções para poder melhor ter seu organismo em melhor funcionamento.

A estética como vista hoje teve seus primórdios modernos na cidade dos sonhos, das fantasias, dos delírios de todas as espécies, em que a beleza era essencial e buscada de todas as formas que foi Hollywood, a partir de que então passou a ser fornecedor de pessoas buscando a harmonização de suas formas, de sua fisionomia, do ângulo perfeito do nariz, da curva do queixo na, das mamas perfeitas, indo em busca da perfeição real ou da fantasia. Estes procedimentos eram procuradas ou pelas divas do cinema OU ERAM RICOS E QUERIAM parecer com alguma…diva. Esta mudança veio acompanhada do apelo financeiro, as pessoas que procuravam estes não só pagavam caro como também faziam questão de que isto era conhecido…e eles podiam ainda jactar-se disto.

Hoje as pessoas podem se submeter se submeter à cirurgias estéticas, embelezadoras, não apenas pelos médicos, mas também por outros profissionais não médicos, ávidos pela ampliação do campo de atuação.

Também grupos de médicos tem-se organizado de tal forma que as pessoas interessadas podem adquirir o direito de se submeter a algum procedimento estético ou cirúrgico obtendo cotas de consórcio, ou de pagamentos de forma parcelada e de forma antecipada. Quando isto acontece são alcançadas pela conduta de propaganda mercantilistas, sensacionalista em que o objetivo maior é o …financeiro.

No tocante à propagação os meios e as peças propagandistas fazem inveja a qualquer programa mercantilista de qualquer produto visando ao conhecimento e busca de forma açodada e continua na busca de ser conhecido e ser procurado. As peças publicitárias são de fazer inveja à “propagandas” de lojas, de vitrines, açougues, pet shops tamanho o colorido e a profusão de peças expostas nas mídias. Isto contraria à orientação milenar de que o médico deve ser … discreto.

Mudaram-se os tempos, mudou-se o mundo, as populações mudaram, as culturas mudaram, e volta e meia os médicos mais antigos, mais tradicionais se perguntam: a medicina mudou? Está voltada agora para a realização, para a busca do belo? É medicina ou é escultor? É médico ou é artista? O médico tem consultório ou atelier?

Nas placas deve-se colocar médico, cirurgião, dermatologista ou fornecedor de fantasias e ilusões? Vendedor de esperanças? E quando não se tem como realizar estas esperanças?

A tradição médica é sempre lembrada pelos objetivos do médico que de acordo com Hipócrates deveriam ser: curar sempre que possível; minorar a dor quando a cura não for possível e consolar sempre. Consolar sempre entendida hoje como orientar, aconselhar e explicar os acontecimentos.

Parece que hoje estamos nos afastando dos objetivos médicos… o que é lamentável…

Juberty Antonio de Souza
Psiquiatra
(CRM MS 996 RQE 323)

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